Lembrança das minhas experiência como menino de engenho

O escritor José Lins do Rego narra em seu romance Menino do Engelho as experiências vividas pelo menino Carlos, entre quatro e doze anos de idade, na Fazenda Santa Rosa, de propriedade do seu avô, no interior da Paraíba. E aqui eu faço esta referência literária para relembrar nesta crônica minha breve experiência como menino de engenho, vivida nos sítios Coité e Cajueiros, onde a nossa família passava alguns dias, na época das moagens e das farinhadas.

Nesses dias, quando havia galos, noites e quintais, como dizia Belchior, eu me encantava com a monotonia do engenho, onde uma junta de bois andava vagarosamente em círculo, movimentando a moenda que moía a cana para se obter a garapa. Essa garapa escorria por um rego de madeira e caia num tacho de cobre aquecido por uma fornalha e, na sequência, em intervalos regulares, passava por quatro tachos sucessivamente menores, até virar um mel grosso. Esse mel era, então, derramado numa Gamela, onde era virado e revirado com uma pá de madeira até formar a massa pastosa que era colocada numa forma para fazer a rapadura. O ambiente do engenho tinha uma magia inesquecível.

Mas se no engenho era a monotonia dos bois caminhando em círculo, na casa de farinha era um frenesi de mulheres e de homens, em geral da mesma família, num converseiro sem fim, descascando mandioca com seus canivetes amolados e muita habilidade. Depois de descascada, a mandioca era relada e transformada numa massa úmida, que era prensada para secar. Na última fase da farinhada, nome da fabricação da farinha a massa seca era espalhada em uma superfície aquecida por uma fornalha, para ser mexida e remexida com um rodo de cabo longo, até ser transformada em farinha. O certo é que a casa de farinha, mais do que um espaço de trabalho, era um ambiente de fraternidade.

Volto ao Belchior para dizer que «eu era alegre com um rio, um bicho, um bando de pardais, como um galo, quando havia galos, noites e quintais». Era e sou, porque sempre fiz o que me dá prazer. Comecei medicina e abandonei porque não gostava; fui professor por trinta anos porque gostava; sou advogado previdenciarista porque gosto e quando a velhice chegar vou morar quinze dias na cidade e quinze dias no Carquejo, praticando agroflorestal. Se Deus quiser!

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